Terminaram ontem as IV Jornadas de Software Aberto para Sistemas de Informação Geográfica que decorreram em Guimarães entre os dias 2 e 4 deste mês. As jornadas, promovidas pela OSGeo Portugal, consituiem um espaço de encontro e convívio entre profissionais e interessados pelas geotecnologias de código aberto. São uma boa oportunidade para conhecer o que se anda a fazer com software aberto na área dos SIG.
Das várias comunicações apresentadas deixo aqui umas breves notas sobre aquelas que me pareceram mais interessantes. Quem quiser saber mais sobre os temas deverá consultar a página da OSGeo Portugal.
A primeira comunicação das Jornadas ficou a cargo de Gonçalo Casaleiro, em representação da Agência para a Modernização Administrativa. A presença de um representante da Administração Central no encontro é, por si só, um dado salutar. A comunicação centrou-se no tema da interoperabilidade dos dados enquanto pré requisito para a integração legislativa e administrativa. A ideia chave desta comunicação é muito interessante e merece destaque para reflexão:
A adopção de normas abertas e a disponiblização de dados pelo Estado irá acrescentar valor a esses mesmos dados por via da cooperação com os cidadãos que essa política permite.
Na área da investigação académica foi apresentada uma comunicação sobre fusão de dados vectoriais heterogéneos com software aberto, tema de doutoramento de Sérgio Freitas. A investigação centra-se em encontrar uma metodologia que, com base na similaridade geográfica, topológica e/ou semântica, permita fundir num único vector um conjunto de dados vectoriais aparentemente redundantes.
Ainda no primeiro dia das Jornadas uma nota para o trabalho notável que o Pedro Venâncio fez na Câmara Municipal de Pinhel. Tendo por base o Quatum GIS e o GRASS, Pedro Venâncio elaborou a Carta de Risco de Incêndio Florestal para o concelho de Pinhel. Os resultados foram alvo de validação que confirma a utilidade da carta produzida: 88% dos incêndios de 2010, no concelho de Pinhel, ocorreram em áreas identificadas como zonas de risco alto ou muito alto!
O primeiro dia terminou com comunicações centradas no Open Street Map, e vou destacar o projecto Clube de Cartografia, uma iniciativa de Cristina Oliveira, professora do 3º Ciclo do Ensino Básico, que, tendo por base Walking Papers, mobilizou um conjunto de alunos no sentido de mapearem a Esgueira e assim explorarem os caminhos da geografia e da cartografia. Um exemplo notável de integração curricular das TIC.
O segundo dia das Jornadas, dia 3, começou com uma comunicação de José Alberto Gonçalves, cujo contributo para as geotecnologias em Portugal, especialmente no que concerne a sistemas de coordenadas é inestimável. A comunicação consistiu numa descrição da biblioteca .proj4. À semelhança do que já havia feito, José Alberto Gonçalves recomendou a adopção definitiva do ETRS89-tm06 em detrimento dos clássicos Hayford-Gauss Militar e Datum 73.
Giovanni Manghi, da Faunalia, apresentou a lista de novidades com que podermos contar no QGIS 2.0. De entre elas destaque para o QGIS Processing Framework que permitirá integrar os módulos de análise de ferramentas poderosas mas que não têm uma interface tão amigável como o Quantum GIS, nomeadamente o Orfeo, GRASS e SAGA. Estamos a falar de centenas de ferramentas de análise que poderão ser usadas em conjunto através de um model builder. Tudo isto poderá significar que deixará de ser necessário criar um Mapset cada vez que queremos utilizar ferramentas GRASS no QGIS!
Da Galiza veio Micho Garcia que, com apresentação divertida e descontraída, deu a conhecer os Xeoinquetos, uma associação informal de apaixonados pelas geotecnologias que se juntam para colaborar em projectos comuns. O grupo Xeoinquetos pode ser descrito como um movimento de cidadania em que os partipantes divulgam conhecimento e técnias geográficas entre si, criando assim um ambiente de aprendizagem que encoraja as pessoas a "sair da sua zona de conforto" pois só assim se aprende...
Finalmente Mota Lopes e Ricardo Sena apresentaram o projecto para uma Plataforma SIARL (Sistema de Informação para apoio à Reposição da Legalidade), cuja face mais visível será um websig que terá a particularidade de ser interactivo, ou seja permite que os utilizadores utilizem informação própria na plataforma. Vale a pena conhecer melhor. A comunicação terminou com um apelo à comunidade (nós todos), para que partilhe os dados que tem para podermos enriquecer o projecto.
O terceiro dia, no campus da Universidade do Minho em Guimarães, foi dedicado aos Workshops - mini cursos práticos sobre determinados softwares. Infelizmente foram altamente condicionados por dificuldades técnicas no acesso à Internet. Não obstante, os workshops são uma excelente oportunidade para aprender em primeira mão com profissionais experientes e são, na minha opinião, a grande mais valia das Jornadas de Software aberto para SIG.
Para terminar nota ainda para os trabalhos e Assembleia Geral da OSgeo-PT, que decorreram no dia 2, e em que foram discutidos assuntos de interesse para a Associação, tendo sido igualmente eleitos novos membros conselheiros, cujos nomes serão divulagados em breve no site da OSGeo-Portugal.
No geral acho que as Jornadas correram bem e a organização - desde a Direcção da OSGeo-Portugal ao secretariado está de parabéns pelo excelente ambiente que se viveu. No entanto não posso deixar de sublinhar um aspecto que tem de melhorar - o cronograma. O programa provisório e as datas das Jornadas devem ser divulgadas com mais antecedência - pelo menos três meses e não apenas uma semana antes, sob pena de muitos interessados não conseguirem organizar as suas agendas de modo a garantirem a sua presença. Sei por experiência própria que estas coisas dão muito trabalho e não são fáceis, por isso este desafio é para toda a comunidade e não apenas para a Direcção da OSGeo-Portugal.
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